quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Será que a mídia rendeu-se à ternura?



Mais uma garotinha está entre os destaques da mídia internacional. Desta vez, ao lado da inglesa Madeleine, está a chinesa Qian Xun Xue, de 3 anos. Ela foi abandonada pelo pais, em uma estação de trem na Austrália, e agora voltou ao país de origem para morar com a avó.


Mas, por que casos como estes têm chamado tanto a atenção da mídia espalhada pelo mundo?
Não acredito que o fato de serem crianças pesa no âmbito dos destaques da imprensa porque, se assim fosse, seriam necessárias 40 mil manchetes por ano, somente no Brasil. Isto mesmo. Todos os anos, 40 mil "madeleines" brasileiras simplesmente desaparecem. O número de crianças abandonadas em ruas e estações também não deve ser muito diferente.


Na verdade, Madeleine e Qian são uma espécie de embaixadoras das milhões de crianças que somem mundo afora. Uma pequena parte que representa o todo.


Ou será que a mídia rendeu-se à ternura?
Algum sentimento de pena, tristeza e indignação tomou conta de editores das mais diversas nacionalidades?

''''New York Times'''' deixa de cobrar por conteúdo na web

Nova York - O jornal The New York Times deixou, desde ontem, de cobrar pelo acesso a algumas partes de seu website, que agora é inteiramente gratuito. A iniciativa foi tomada dois anos depois do lançamento do programa de assinaturas TimesSelect, que cobrava US$ 49,95 por ano ou US$ 7,95 por mês pelo acesso aos textos dos colunistas e aos arquivos. O TimesSelect era gratuito para assinantes da versão em papel e alguns estudantes e educadores.

Além de abrir o site inteiro, o Times disponibilizou gratuitamente os arquivos a partir de 1987, assim como o material editado de 1851 a 1922, que está em domínio público. Parte do material do período de 1923 a 1986 será cobrada. O jornal afirmou que o TimesSelect atendeu às expectativas, atraindo 227 mil assinantes - de um total de 787 mil leitores com acesso ao programa -, com uma renda anual de cerca de US$ 10 milhões.

"Mas nossas projeções de crescimento dessa base de assinantes eram baixas em comparação com o crescimento da publicidade online", disse Vivian L. Schiller, vice-presidente e diretora do site NYTimes.com.

A mudança, afirmou o jornal, foi que muito mais leitores estavam chegando ao site vindos de portais de busca e links em outras páginas, em vez de acessar diretamente o NYTimes.com. Esses leitores indiretos, sem acesso aos artigos cobrados e menos propensos a pagar taxas de assinatura do que os leitores diretos e mais leais, foram vistos como oportunidades para mais visitas e mais receitas com publicidade. "O que não esperávamos era que uma parte tão grande de nosso tráfego seria gerada pelo Google, Yahoo e outros sites", disse Vivian.

O NYTimes.com recebe cerca de 13 milhões de visitantes únicos por mês, segundo a Nielsen/NetRatings - muito mais que qualquer outro site de jornal. Vivian não informou qual é a expectativa do jornal de aumento do tráfego e da receita com publicidade em conseqüência do fim da cobrança. Quem pagou adiantado pelo acesso ao TimesSelect será reembolsado proporcionalmente.

Colby Atwood, presidente da empresa de pesquisa de mídia Borrell Associates, disse que sempre houve razões para questionar o modelo pago de sites de notícias e que as dúvidas aumentaram com o tráfego e a renda da publicidade online.

"O modelo da receita com publicidade, comparado à renda com assinantes, é muito mais atraente", disse. "O modelo híbrido tem algum potencial. No longo prazo, porém, a parte de publicidade predominará." Além disso, segundo ele, o Times tem sido especialmente hábil no uso das informações recolhidas sobre os leitores online para direcionar anúncios especificamente a eles, aumentando seu valor para os anunciantes.

WALL STREET

O Wall Street Journal, publicado pela Dow Jones & Company - recentemente comprada pela News Corp. -, é o único grande jornal dos EUA que cobra pelo acesso à maior parte de seu website - cobrança que começou em 1996. O Journal tem quase 1 milhão de leitores online pagantes, rendendo cerca de US$ 65 milhões. Esse modelo, porém, também parece estar com os dias contados. Na terça-feira, o presidente da News Corp., Rupert Murdoch, disse estar inclinado a tornar gratuito o serviço online do jornal, embora não tenha fixado uma data para isso acontecer. "Parece ser esse o caminho para o qual estamos indo", disse Murdoch a investidores em uma conferência em Nova York.

O Financial Times cobra pelo acesso a materiais selecionados online, como fazia o New York Times. O Los Angeles Times, por sua vez, experimentou esse modelo em 2005, cobrando pelo acesso à seção de artes, mas o abandonou rapidamente ao constatar uma queda brusca no tráfego online. (Estado de S.P - 20/09/07)

terça-feira, 25 de setembro de 2007

TV Digital

"TV digital vai estrear para ninguém", diz diretor da TVA

No dia 2 de dezembro de 2007, quando a TV aberta brasileira estrear oficialmente sua transmissão digital em São Paulo, haverá menos de 1.000 pessoas --numa cidade com cerca de 11 milhões-- assistindo aos programas em alta definição. Para Virgílio Amaral, diretor de Estratégia e Tecnologia da TVA, este é o quadro mais otimista para início da TV digital no Brasil.
"Vai ser uma estréia para ninguém", diz Amaral, especialista no setor e responsável pela digitalização da TVA. Para ele, a TV digital deve estrear mesmo no ano que vem, turbinada pela transmissão dos Jogos Olímpicos de Pequim. "Não vejo de forma ruim este começo. Afinal, a TV digital vai depender de um processo de aculturamento", pondera.



Divulgação Aparelhos Full HD, como este da Sharp, poderão receber imagem em alta definição total, de 1.080 linhas


Para pegar freqüência digital, o telespectador precisará de um aparelho com set-top box (conversor) avulso ou embutido. Se quiser a imagem mais nítida possível, de 1.080 linhas horizontais, terá de comprar um televisor do tipo Full High Definition. Os preços para este tipo de eletrodoméstico começam na casa dos R$ 7 mil, sem set-top box acoplado.
"Muita gente acha que ter uma TV de plasma ou LCD qualquer com um receptor digital embutido já dá para receber o melhor conteúdo em alta definição, quando, na verdade, você precisa de uma Full HD para ter a alta definição total", explica Amaral.
Tanta resolução foi, segundo o governo, um dos principais aspectos para o Brasil escolher o padrão japonês de TV digital (ISDB-T), em detrimento do europeu (DVB), que daria mais opções de canais e de interatividade.


O set-top box, decodificador que receberá o sinal tanto para TVs analógicas quanto digitais, estará a venda já no mês que vem. Seu preço segue nebuloso --governo e indústria cantam em acordes diferentes, oscilando o custo de prateleira de R$ 200 a R$ 800.
Aparelhos com set-top box embutido também chegam ao mercado em novembro. LG e Samsung já confirmaram a entrada neste setor. Outras empresas, como Panasonic e Aiko apostarão nos conversores. A lógica é de que haverá mais mercado para as caixas receptoras do que para novos televisores.
A chance da imagem em alta definição total se transformar num boto tecnológico é alta. "O consumidor que procura uma TV hoje avalia dois aspectos: quantas polegadas tem o aparelho e qual seu preço. Ao consumidor médio, pouco importa esses aspectos mais técnicos", diz o diretor da TVA.
Assim como o diretor-geral da Globo, Octávio Florisbal, ele aposta que o governo precisará expandir seu cronograma de implantação da TV digital. Segundo o ministério das comunicações, o sinal analógico será cortado até 2016, e daí em diante só haverá transmissão digital. Assim como a estréia da TV digital em dezembro, esta seria uma outra data meramente simbólica.


Eterno retorno

Reprodução
Como quase ninguém assistirá à bela imagem da TV digital em sua estréia, supermercados, shoppings, lojas de eletrônicos e até emissoras já começaram a expor TVs Full HD com programação digital de teste pela cidade.
"Isso lembra a estréia da TV a cores. Naquela época, eu só conseguia ver [a novela] 'Bem-Amado' colorida se fosse numa loja. O problema é que ela começava de noite, quando os estabelecimentos já estavam fechando", brinca Amaral, que assistirá à estréia da TV digital em alta definição de sua casa.
Neste sentido, a digitalização da TV aberta lembra ainda as primeiras transmissões televisionadas no país, que fizeram neste mês aniversário de 57 anos.
Na época, Assis Chateaubriand, dono da TV Tupi, distribuiu 200 aparelhos entre lugares estratégicos e mais abastados da capital paulista. Curiosidade: para cumprir o cronograma, Chatô precisou contrabandeá-los dos EUA. (Folhaonline - 25/09/2007)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Ternura
Vinicius de Moraes
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar [ extático da aurora.

Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.

domingo, 16 de setembro de 2007

Unpersonal amigo

Há alguns anos, com a preocupação do culto ao corpo, surgia uma profissão: o personal trainer, um profissional de educação física que se encaixa nos horários dos clientes e realiza um programa personalizado de exercícios. Não muito tempo depois, já se ouvia falar do personal stylist, alguém especializado em como se vestir adequadamente para as diversas ocasiões. Supérfluos para alguns, indispensáveis para outros.

Mas, o que você pensaria se encontrasse esse anúncio na internet:

Você sente falta de alguém para conversar? Alguém para lhe ouvir quando precisa desabafar? Para ficar ao seu lado quando se sente só? Alguém para lhe fazer companhia para ir ao cinema, a um restaurante ou dar uma caminhada?

Se eu puder lhe ser útil de alguma das formas citadas, ligue-me!


Pois é, agora existe o personal amigo! Mediante o pagamento de uma taxa, qualquer um pode ter seu vazio preenchido. Será que a temida solidão agora tem um remédio? No more lonely nights?

Como seria então, esse amigo pago? Será que ele pode tornar-se pessoal mesmo, como aquele que te conhece há anos e sabe do seu estado de espírito só de olhar pra você? Tudo parece tão contraditório nessa profissão! Não creio que seja possível substituir amigos reais por amigos pagos, afinal, como qualquer relacionamento, amizade é troca, e não por moeda, troca-se atenção, ajuda, companheirismo, opinião. Pagar alguém para ser meu amigo parece tão unpersonal. Como reagiria o cliente quando o amigo pago estiver meio, sei lá, sem vontade de sair? Precisando de alguém pra conversar? E quando o cliente discordar em algo do amigo pago? Como é que fica? Dá pra pedir desculpas e sair pra tomar uma cerveja, na boa? Posso abraçar meu amigo pago?

É dificil não perguntar a que ponto chegamos. Quando nos tornamos incapazes de nos vestir sozinhos e de nos relacionar? Numa sociedade em que tudo vira produto, até mesmo algo tão precioso, tão cantado em versos, pode ser escolhido no meio de anúncios na internet. No livro “O direito à ternura”, Luis Carlos Restrepo, constata: “...sofremos uma terrível deformação, um pavoroso empobrecimento histórico que nos levou a um nível jamais conhecido de analfabetismo afetivo...sabemos somar, multiplicar e dividir, mas nada sabemos de nossa vida afetiva, razão pela qual continuamos exibindo grande entorpecimento em nossas relações com os outros”

Talvez essa nova profissão nos leve a questionar do que realmente precisamos. Como curar nosso analfabetismo afetivo. Sim, porque, se há pessoas que pagam por um amigo, é porque a necessidade existe. Todo ser humano precisa do contato, necessita relacionar-se, compartilhar alegrias e tristezas, não fomos criados para ser sozinhos. Mas pagar por um amigo resolverá a questão? Pode até ser que dessas amizades pagas, surja uma verdadeira, mas será que não devemos baixar a guarda, enxergar nossa humanidade e demonstrar nossas limitações e fraquezas para nos aproximar uns dos outros? É exatamente em nossa singularidade que reside a riqueza humana, que torna a proximidade possível e a amizade real.

Cultivar amigos é tê-los por toda a vida, gratuitamente e de verdade. Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Até onde vai o poder?



http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1902617-EI7896,00.html

A absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros, é intrigante. Não vou entrar aqui no mérito da decadência moral ou da falta de credibilidade das instituições brasileiras. A questão é mais abrangente e me leva a questionar qual é o real poder da mídia.

Dias antes da votação, apesar do "pé no chão" de muitos, grande parte dos veículos de comunicação, especialmente os de grande circulação, publicaram matérias que, se não davam a cassação como certa de maneira aberta, certamente apontavam todos os indícios de que esse era o caminho natural na votação de quarta-feira.

A Folha de S. Paulo chegou ao requinte de publicar uma enquete feita pela sua reportagem e que apontava que 41 senadores votariam pela cassação e apenas 10 seriam contra. Diante do resultado, seria um problema de má fé dos entrevistados, ou uma tentativa (frustrada) de pressão por parte do jornal?

O que parece ficar deste episódio (assim como do Mensalão e tantos outros) é que, se a mídia, no Brasil, um dia já foi capaz de derrubar presidentes, hoje se encontra em algum estágio abaixo dos três primeiros poderes. A ordem de força se inverte de tempos em tempos, mas, ultimamente, a mídia parece estar perdendo potência.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Mídias: um mal necessário

Como trabalho/tema para o mini-seminário de nosso grupo, escolhemos analisar dois filmes, fazendo críticas da própria mídia e analisando o poder de manipulação que ela tem para com as pessoas, seja negativa ou positivamente.

Aproveitando o assunto, pergunto: será que a publicidade e a propaganda têm o poder de mudar a sociedade? No filme Idiocracy – um filme bobo, mas inteligente a certo ponto, isso é possível.

Para entender o comentário, primeiro uma sinopse do filme, de 2006: Escrita com sarcasmo incisivo e piadas visuais hilárias, Idiocracy é uma divertida comédia que fará as pessoas pensarem duas vezes sobre o futuro da raça humana. Joe Bowers não é de modo algum o cara mais brilhante do pedaço, mas quando uma experiência governamental com hibernação cai no esquecimento, Bowers acorda no ano de 2505 e encontra uma sociedade tão emburrecida pelo comercialismo de massa (propagandas) e pela alienação da programação de Tv, que ele acaba sendo a pessoa mais inteligente do planeta. Assim, cabe a um cara pra lá de mediano colocar a evolução da raça humana de volta nos trilhos.

Claro que o filme é uma ficção, mas se a sociedade e a mídia não “entrarem em sintonia”, as pessoas podem ficar alienadas, a ponto de não terem mais discernimento entre o que é certo ou errado, bom ou ruim para elas próprias e nem mesmo ter limites.

A película é como se fosse um alerta para as pessoas verem como tudo pode ser destruído sem a educação e com a manipulação das mídias, mas também, elas não são as únicas vilãs no mundo das comunicações ou da educação: vários fatores entram em comunhão, fazendo delas um mal necessário. Cabe aos comunicadores, saber como usá-las.


Cena do filme Idiocracy

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

TV para crianças: vilã ou educadora?




Uma pesquisa feita pela Universidade de Otago, na Nova Zelândia, apontou que as crianças que assistem a mais de duas horas de televisão por dia, enquanto cursam a escola primária, têm mais dificuldade de concentração quando chegam ao ensino secundário do que aquelas que assistem pouca televisão.

Parece-me que a TV não possui todo esse potencial de educar as crianças no mundo globalizado, em que os pais não têm tempo de acompanhar de perto o desenvolvimento infantil. Usando dados deste levantamento, é possível notar as diversas falhas ainda existentes na mídia, com relação a educar, transmitir cultura. O problema estaria no momento e na forma como estas informações são repassadas aos pequenos que, até então, estão reconhecendo o ambiente em que crescem.

O estudo da universidade neozelandesa indica ainda que os danos provocados pela televisão nas crianças são duradouros. Há uma interferência direta na atenção delas.

O fato é que ao freqüentar a escola, os pequenos passam a se deparar com uma nova forma de absorção de conhecimento. Talvez até muito mais entediante do que quando assiste à TV. Em alguns casos, as crianças admitiram deixar de fazer a lição de casa porque os programas da televisão agradam mais.

Os pesquisadores ouviram 1.037 crianças de cinco a 15 anos de idade. O estudo foi publicado na revista médica Pediatrics.

Fonte: jornal Diário de Açores (Portugal)
http://www.da.online.pt/

Mídia e Poder, por Marilena Chauí

Artigo - Site da FENAJ - Federação Nacional Dos Jornalistas25/09/2006 20:05
Mídia e poder
*Marilena ChauíI.

O poder da mídia: aspectos gerais

Podemos focalizar a questão do exercício do poder pelos meios de comunicação de massa sob dois aspectos principais: o econômico e o ideológico.

Do ponto de vista econômico, os meios de comunicação são empresas privadas, mesmo quando, como é o caso do Brasil, rádio e televisão sejam concessões estatais, pois estas são feitas a empresas privadas. Ou seja, os meios de comunicação são uma indústria (a indústria cultural) regida pelos imperativos do capital. Tanto é assim que, sob a ação da forma econômica neoliberal ou da chamada globalização, a indústria da comunicação passou por profundas mudanças estruturais, pois “num processo nunca visto de fusões e aquisições, companhias globais ganharam posições de domínio na mídia.” Além da forte concentração (os oligopólios beiram o monopólio), também é significativa a presença, no setor das comunicações, de empresas que não tinham vínculos com ele nem tradição nessa área. O porte dos investimentos e a perspectiva de lucros jamais vistos levaram grupos proprietários de bancos, indústria metalúrgica, indústria elétrica e eletrônica, fabricantes de armamentos e aviões de combate, indústria de telecomunicações a adquirir, mundo afora, jornais, revistas, serviços de telefonia, rádios e televisões, portais de internet, satélites, etc. Essas mudanças nos fazem compreender que o poder econômico, graças ao qual os meios de comunicação instituem o espaço e o tempo públicos, não é exercido por agentes que deliberam e agem em vista de seus próprios interesses e fins particulares. Como observam com grande pertinência Maria Rita Kehl e Eugênio Bucci, o sujeito do poder não são os proprietários dos meios de comunicação nem os Estados nem grupos e partidos políticos, mas simplesmente (e gigantescamente) o próprio capital. O poder midiático, escrevem eles, é um “mecanismo de tomada de decisões que permite ao modo de produção capitalista, transubstanciado em espetáculo, sua reprodução automática”. Os proprietários dos meios de comunicação são suportes do capital. Evidentemente, não se trata de negligenciar o poder econômico dos senhores dos conglomerados midiáticos nem sua força para produzir ações ou efeitos sociais, políticos e culturais. No entanto, num nível mais profundo, trata-se de compreender, como mostram as análises de Kehl e Bucci, que essas ações exibem poder, mas não o constituem, pois sua constituição encontra-se no modo de produção do capital.

Do ponto de vista ideológico, podemos tomar como referência a afirmação de Claude Lefort de que a ideologia contemporânea é uma ideologia invisível. A ideologia burguesa, diz Lefort, tinha a peculiaridade de indicar quem eram seus autores ou agentes, era proferido do alto e pretendia ser discurso sobre o social e para o social. A ideologia contemporânea é invisível por que não parece construída nem proferida por um agente determinado, convertendo-se num discurso anônimo e impessoal, que parece brotar espontaneamente da sociedade como se fosse o discurso do social: Assim como o poder econômico aparece localizado nos proprietários das empresas da indústria da comunicação, mas é o poder ilocalizado do capital, assim também, mas de maneira invertida (já que estamos no campo da ideologia), as representações ou imagens que constituem a ideologia aparecem desprovidas de localização, embora estejam precisamente localizadas nos centros emissores da comunicação. Penso que a ideologia invisível só se torna compreensível como exercício de poder se a considerarmos por um outro prisma, aquele que temos denominado com a expressão ideologia da competência. Ou seja, a peculiaridade da ideologia contemporânea está no seu modo de aparecer sob a forma anônima e impessoal como discurso do conhecimento e sua eficácia social, política e cultural funda-se na crença na racionalidade técnico-científica.

De fato, por meio do aparato tecnológico, da atopia e da acronia, e dos procedimentos de encenação e de persuasão, os meios aparecem com a capacidade mágica de fazer acontecer o mundo. Ora, essa capacidade é a competência suprema, a forma máxima do poder: o de criar a realidade. E esse poder é ainda maior (igualando-se ao divino) quando, graças a instrumentos técnico-científicos, essa realidade é virtual ou a virtualidade é real.

* Conferência proferida no 32º Congresso Nacional dos Jornalistas, em Ouro Preto (MG), em 05/07/2006.

domingo, 9 de setembro de 2007

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O fotojornalismo e a era digital

Na sua nova era, a fotografia visa continuar produzindo imagens artísticas sem deixar de aproveitar os recursos.

Embora as novas tecnologias tenham trazido vantagens no campo fotográfico, no que diz respeito à qualidade da imagem, e a oportunidade de vencer o tempo e o espaço com maior rapidez e comodidade, as questões ligadas à manipulação digital de imagens são talvez as mais relevantes para o fotojornalismo atual. Se, anteriormente, os recursos utilizados eram feitos à mão, agora entra a máquina como instrumento de auxílio ao homem na elaboração da fotografia de imprensa, atingindo objetivos positivos e consequentemente lucros significativos para a imprensa jornalística. Um jornal que antes dependia da revelação, ampliação e edição das imagens para publicá-las, hoje pode obter um resultado mais eficaz e veloz, aumentando seus exemplares devido ao menor tempo requerido para a elaboração do jornal. A instantânea visualização das imagens digitalizadas através de softwares também auxiliou no processo de edição de um jornal impresso.

O jornal impresso e a fotografia digital

Rompendo a barreira da realidade virtual podemos conferir em tempo real, nas redações ou nos sites das agências de notícias, informações visuais de todos os cantos do mundo por um custo quase zero. Ou criar imagens surreais na mesma velocidade.

A imagem digital veio pra ficar, e não para substituir o que já foi conquistado, isso para facilitar a vida do fotógrafo, agregando novos valores. Portanto é mais uma técnica, um recurso de linguagem que devemos aprender e usufruir em todos os seus aspectos.

A respeito de toda essa tecnologia, podemos pronunciar que a fronteira final fotográfica ainda não foi atingida e a boa fotografia, independente da mídia utilizada, ainda demanda luz, sensibilidade de intelecto criativo do fotógrafo.