segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Ternura
Vinicius de Moraes
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar [ extático da aurora.

Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.

Um comentário:

Marília Martins Bandeira disse...

Vinícius comunica tão bem as coisas do coração que faz pensar como isso era possível. Hoje a falta de tempo, a mediação da tecnologia e a codificação das emoções colaboram com um defeito na habilidade de relacionar-se, de reconhecer o que se sente e promove a efemeridade das interações humanas. A confusão amorosa é também característica destes dias de personal amigo. Da minha parte, escrevi "Afeição" a uns tempos atrás:

Afeição.
Ficção?
Aflição!
Afim.
Afinal,
Amor em mim?